Entre
as principais características das sociedades modernas, encontram-se a crescente
divisão do trabalho, o aperfeiçoamento contínuo dos sistemas produtivos e a flexibilização
e a mobilidade dos mercados de trabalho.
A DIVISÃO
DO TRABALHO
O pensamento de dois autores
clássicos, Karl Marx e Émile Durkheim, marca ainda hoje perspectivas distintas
sobre a divisão do trabalho nas sociedades modernas.
Para Marx, a divisão social do
trabalho, realizada no processo de desenvolvimento das sociedades, gera a
divisão em classes.
Nas sociedades modernas, com o
surgimento das fábricas, duas classes foram definidas pela divisão social do
trabalho: a dos proprietários das máquinas e a de seus operadores.
Subordinado à máquina e ao
proprietário dela, o trabalhador só tem, segundo Marx, sua força para vender.
Ao pagar por essa força de trabalho, o capitalista passa a ter o direito de
utilizá-la no interior da fábrica.
O operário trabalha mais horas por
dia do que o necessário para produzir o referente ao valor do seu salário. O que
ele produz nessas horas a mais é o que Marx chama de mais-valia. O valor das horas trabalhadas e não pagas é acumulado e
replicado na produção, o que enriquece o capitalista. Esse processo é
denominado acumulação de capital.
Os conflitos entre os capitalistas e
os operários aparecem quando estes verificam que trabalham muito e estão cada
dia mais miseráveis. Diversos tipos de enfrentamento marcaram, assim, o
desenvolvimento do capitalismo.
Para Durkheim, a crescente
especialização do trabalho promovida pela produção industrial moderna trouxe
uma forma superior de solidariedade, não de conflito.
O autor concebe duas formas de
solidariedade:
· Solidariedade mecânica: o que une as pessoas não é o
fato de uma depender do trabalho da outra, mas a aceitação de um conjunto de
crenças, tradicionais e costumes comuns;
·
Solidariedade orgânica:
o que une as pessoas é a necessidade que uma tem da outra, em virtude da
divisão do trabalho social.
A interdependência provocada pela crescente divisão do
trabalho cria solidariedade, pois faz a sociedade funcionar e lhe dá coesão.
Se a divisão do trabalho não produz a solidariedade, é
porque as relações entre os diversos setores da sociedade não são
regulamentadas pelas instituições existentes.
As análises das relações de trabalho na sociedade moderna
capitalista influenciaram mudanças na organização do sistema produtivo a partir
do início do século XX.
O APERFEIÇOAMENTO
DOS SISTEMAS PRODUTIVOS
Ainda no final do século XIX,
Frederick Taylor (1865-1915) propunha a aplicação de princípios científicos na
organização do trabalho, buscando maior racionalização do processo produtivo. Já
no século XX, Henry Ford (1863-1947) introduziu em sua fábrica nos Estados
Unidos uma forma bem detalhada e encadeada de divisão de tarefas, visando à
produção em série de um produto para o consumo em massa, o automóvel Ford
modelo T.
Com as mudanças introduzidas por
Ford, as expressões fordismo e taylorismo passaram a ser usadas para
identificar um mesmo processo:
·
Uso mais racional das
horas trabalhadas;
·
Aumento da
produtividade com o controle das atividades dos trabalhadores;
·
Divisão e
parcelamento das tarefas;
·
Mecanização de parte
das atividades;
·
Introdução da linha
de montagem;
·
Sistema de
recompensas e punições conforme o comportamento dos operários na fábrica.
Esse processo deu início ao que veio a se chamar era do
consumismo: produção e consumo em larga escala.
Com Ford e Taylor, a divisão do trabalho passou a ter
planejamento vindo de cima, que não levava em conta os operários. Para corrigir
isso e evitar conflitos, a partir de 1930, Elton Mayo (1880-1949) buscou medidas
que promovessem o equilíbrio e a colaboração no interior das empresas.
A visão de Taylor, a de Ford e a de Mayo revelam a
influência das formulações de Durkheim, que afirmou haver uma consciência
coletiva que define as ações individuais, submetendo todos à ordem
estabelecida. As empresas devem dar continuidade a isso, definindo o luar e as
atividades de cada um.
O sociólogo estadunidense Harry Braverman (1920-1976) foi
um crítico dessa visão. Para ele, o taylorismo tirava do trabalhador o último resquício
de saber sobre a produção: a capacidade de operar uma máquina, restando-lhe
submeter-se ao administrador. Estava concluída a expropriação em todos os
níveis da autonomia dos trabalhadores.
A crítica marxista destaca que as formas de
regulamentação da força de trabalho propostas por Mayo seriam indiretas, pela
manipulação do operário por meio de especialistas em resolver conflitos. Com esses
procedimentos o fordismo-taylorismo penetrou em todas as organizações sociais. Essa
forma de organizar o trabalho foi marcante até a década de 1970 e ainda
prevalece em muitos locais.
FLEXIBILIZAÇÃO
E MOBILIDADE
Novas transformações aconteceram na
sociedade capitalista, principalmente depois da década de 1970, e todas visam à
busca por mais lucro. Destaca-se, entre essas transformações, a flexibilização
do trabalho e do mercado.
Há duas formas de flexibilização
próprias desse processo:
·
Flexibilização dos processos de trabalho e de produção: automação e consequente eliminação do controle manual por
parte do trabalhador;
·
Flexibilização e mobilidade dos mercados de trabalho: os empregadores passam a utilizar as mais diferentes
formas de trabalho, substituindo a forma clássica do emprego regular, sob
contrato.
A
SOCIEDADE SALARIAL ESTÁ NO FIM?
O trabalho fixo, sem mudança de
emprego até a aposentadoria, está desaparecendo. O sociólogo Robert Castel
(1933-2013) constatou que há uma nova sociedade na qual o trabalho e a
previdência já não significam segurança, o que causa transtornos sociais e
individuais. Ele sintetizou essa situação em quatro pontos:
·
A desestabilização
dos estáveis;
·
A precariedade do trabalho;
·
O déficit de postos
de trabalho;
·
O desajuste entre
qualificação e emprego.
Como o trabalho é uma espécie de passaporte para a
integração do indivíduo na sociedade, o resultado é uma desqualificação do
ponto de vista da cidadania, com consequente perda de identidade.
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