quarta-feira, 27 de novembro de 2019

O TRABALHO NA SOCIEDADE MODERNA


Entre as principais características das sociedades modernas, encontram-se a crescente divisão do trabalho, o aperfeiçoamento contínuo dos sistemas produtivos e a flexibilização e a mobilidade dos mercados de trabalho.

A DIVISÃO DO TRABALHO

            O pensamento de dois autores clássicos, Karl Marx e Émile Durkheim, marca ainda hoje perspectivas distintas sobre a divisão do trabalho nas sociedades modernas.
            Para Marx, a divisão social do trabalho, realizada no processo de desenvolvimento das sociedades, gera a divisão em classes.
            Nas sociedades modernas, com o surgimento das fábricas, duas classes foram definidas pela divisão social do trabalho: a dos proprietários das máquinas e a de seus operadores.
            Subordinado à máquina e ao proprietário dela, o trabalhador só tem, segundo Marx, sua força para vender. Ao pagar por essa força de trabalho, o capitalista passa a ter o direito de utilizá-la no interior da fábrica.
            O operário trabalha mais horas por dia do que o necessário para produzir o referente ao valor do seu salário. O que ele produz nessas horas a mais é o que Marx chama de mais-valia. O valor das horas trabalhadas e não pagas é acumulado e replicado na produção, o que enriquece o capitalista. Esse processo é denominado acumulação de capital.
            Os conflitos entre os capitalistas e os operários aparecem quando estes verificam que trabalham muito e estão cada dia mais miseráveis. Diversos tipos de enfrentamento marcaram, assim, o desenvolvimento do capitalismo.
            Para Durkheim, a crescente especialização do trabalho promovida pela produção industrial moderna trouxe uma forma superior de solidariedade, não de conflito.
            O autor concebe duas formas de solidariedade:
·        Solidariedade mecânica: o que une as pessoas não é o fato de uma depender do trabalho da outra, mas a aceitação de um conjunto de crenças, tradicionais e costumes comuns;
·         Solidariedade orgânica: o que une as pessoas é a necessidade que uma tem da outra, em virtude da divisão do trabalho social.
A interdependência provocada pela crescente divisão do trabalho cria solidariedade, pois faz a sociedade funcionar e lhe dá coesão.
Se a divisão do trabalho não produz a solidariedade, é porque as relações entre os diversos setores da sociedade não são regulamentadas pelas instituições existentes.
As análises das relações de trabalho na sociedade moderna capitalista influenciaram mudanças na organização do sistema produtivo a partir do início do século XX.

O APERFEIÇOAMENTO DOS SISTEMAS PRODUTIVOS

            Ainda no final do século XIX, Frederick Taylor (1865-1915) propunha a aplicação de princípios científicos na organização do trabalho, buscando maior racionalização do processo produtivo. Já no século XX, Henry Ford (1863-1947) introduziu em sua fábrica nos Estados Unidos uma forma bem detalhada e encadeada de divisão de tarefas, visando à produção em série de um produto para o consumo em massa, o automóvel Ford modelo T.
            Com as mudanças introduzidas por Ford, as expressões fordismo e taylorismo passaram a ser usadas para identificar um mesmo processo:
·         Uso mais racional das horas trabalhadas;
·         Aumento da produtividade com o controle das atividades dos trabalhadores;
·         Divisão e parcelamento das tarefas;
·         Mecanização de parte das atividades;
·         Introdução da linha de montagem;
·         Sistema de recompensas e punições conforme o comportamento dos operários na fábrica.
Esse processo deu início ao que veio a se chamar era do consumismo: produção e consumo em larga escala.
Com Ford e Taylor, a divisão do trabalho passou a ter planejamento vindo de cima, que não levava em conta os operários. Para corrigir isso e evitar conflitos, a partir de 1930, Elton Mayo (1880-1949) buscou medidas que promovessem o equilíbrio e a colaboração no interior das empresas.
A visão de Taylor, a de Ford e a de Mayo revelam a influência das formulações de Durkheim, que afirmou haver uma consciência coletiva que define as ações individuais, submetendo todos à ordem estabelecida. As empresas devem dar continuidade a isso, definindo o luar e as atividades de cada um.
O sociólogo estadunidense Harry Braverman (1920-1976) foi um crítico dessa visão. Para ele, o taylorismo tirava do trabalhador o último resquício de saber sobre a produção: a capacidade de operar uma máquina, restando-lhe submeter-se ao administrador. Estava concluída a expropriação em todos os níveis da autonomia dos trabalhadores.
A crítica marxista destaca que as formas de regulamentação da força de trabalho propostas por Mayo seriam indiretas, pela manipulação do operário por meio de especialistas em resolver conflitos. Com esses procedimentos o fordismo-taylorismo penetrou em todas as organizações sociais. Essa forma de organizar o trabalho foi marcante até a década de 1970 e ainda prevalece em muitos locais.

FLEXIBILIZAÇÃO E MOBILIDADE

            Novas transformações aconteceram na sociedade capitalista, principalmente depois da década de 1970, e todas visam à busca por mais lucro. Destaca-se, entre essas transformações, a flexibilização do trabalho e do mercado.
            Há duas formas de flexibilização próprias desse processo:
·         Flexibilização dos processos de trabalho e de produção: automação e consequente eliminação do controle manual por parte do trabalhador;
·         Flexibilização e mobilidade dos mercados de trabalho: os empregadores passam a utilizar as mais diferentes formas de trabalho, substituindo a forma clássica do emprego regular, sob contrato.

A SOCIEDADE SALARIAL ESTÁ NO FIM?

            O trabalho fixo, sem mudança de emprego até a aposentadoria, está desaparecendo. O sociólogo Robert Castel (1933-2013) constatou que há uma nova sociedade na qual o trabalho e a previdência já não significam segurança, o que causa transtornos sociais e individuais. Ele sintetizou essa situação em quatro pontos:
·         A desestabilização dos estáveis;
·         A precariedade do trabalho;
·         O déficit de postos de trabalho;
·         O desajuste entre qualificação e emprego.
Como o trabalho é uma espécie de passaporte para a integração do indivíduo na sociedade, o resultado é uma desqualificação do ponto de vista da cidadania, com consequente perda de identidade.


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