terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

A IMPORTÂNCIA DA FILOSOFIA PARA A VIDA COTIDIANA

A indagação mais corriqueira a alguém que se diga estudante de filosofia ou mesmo Filósofo é uma pergunta que já traz em si um caráter filosófico: para que serve a filosofia? Este enfoque é chamado em Filosofia de enfoque Utilitarista. O Utilitarismo é “uma doutrina ética que prescreve a ação (ou inação) de forma a otimizar o bem-estar do conjunto dos seres sencientes[1]. O utilitarismo é então uma forma de consequencialismo, ou seja, ele avalia uma ação (ou regra) unicamente em função de suas consequências.Filosoficamente, pode-se resumir a doutrinautilitarista pela frase: "Agir sempre de forma a produzir a maior quantidade de bem-estar (Princípio do bem-estar máximo)”.

Seus organizadores foram “Jeremy Bentham (1748-1832) e John Stuart Mill (1806-1873) que sistematizaram o princípio da utilidade e conseguiram aplicá-lo a questões concretas – sistema político, legislação, justiça, política econômica, liberdade sexual, emancipação feminina”.

Muito importante na história do Direito, o Utilitarismo tem uma qualidade que é ao mesmo tempo seu maior defeito: o racionalismo. Ele implica que cada gesto seja devidamente calculado e é exatamente aí que ele falha, já que, já que é uma linha de pensamento consequencialista, que considera fundamentais todas, e eu repito, todas as consequências de um ato , falha na medida que é impossível ter certeza de todas as interações possíveis de determinado gesto, ou seja, queiramos ou não, sempre teremos que pagar um tributo à incerteza e a imprevisibilidade.

                                                                Jeremy Bentham

Talvez por isso muitos o critiquem, só que como todas as linhas de pensamento geradas a partir do exercício da filosofia por seus diversos autores, o utilitarismo deixou sua cicatriz na vida da sociedade e assim perguntas como “ para que serve a filosofia” são feitas , na concepção ingênua de que seja espontânea e que não tenha já em si, um viés filosófico.
                                                             John Stuart Mill

Este é o primeiro aspecto da interveção do pensamento filosófico na vida social: por decantação, milênio após milênio, em tempos menos cultos e depois com o avanço da velocidade da informação e do conhecimento, século após século, depois década após década, filósofos elucidam interpretações originais da realidade, primeiro discutindo-as com seus pares e, lentamente, deixam que elas se derramem sobre as mentes de todos os seres humanos em todas as partes do planeta.

Todos nós julgamos, e achamos que julgamos, qyue estabelecemos juízos sobre as coisas que nos acontecem de forma espontânea, dada, como dizemos em filosofia. Só que não é assim. Um pensador treinado nas muitas escolas de pensamento saberá reconhecer no discurso ou nos atos de alguém ou de alguma instituição os traços de uma determinada linha de pensamento, uma perspectiva que provavelmente nada terá de original e sobre a qual, no exercício filosófico, já foi dissecada em seus mínimos e limitados detalhes.

É o caso do Utilitarismo. Toda forma de pensar, que em filosofia chamamos genericamente de Escola de Pensamento, após ser constituída e divulgada, sofre um processo de análise intelectual chamado em Filosofia de Crítica Filosófica. A palavra crisis em grego quer dizer separação. Criticar, embora entre os leigos no assunto signifique “falar mal de alguém ou de alguma coisa”, em filosofia significa separar em partes para estudar melhor, dividir para entender. Ao criticar uma escola filosófica, os pensadores extraem-lhe seus acertos e seus erros, seus avanços e suas limitações, porque na verdade, toda escola de pensamento está submetida a Dualidade da existência e do pensamento, tendo sempre uma face interessante e outra não tanto. Ao criticar o Utilitarismo reconhece-se a beleza de uma norma como “Agir sempre de forma a produzir a maior quantidade de bem-estar (Princípio do bem-estar máximo)”, associando-a as coisas úteis, racionalmente importantes e de consequências bastante previsíveis, pelo menos em parte; mas surge imediatamente a questão: existirão coisas inúteis que possam causar também grande bem estar, que em princípio não sirvam para absolutamente nada e que, mesmo assim, causem grande bem estar a um grande grupo de pessoas? Sim. E a mais importante delas é a Arte.

Quando um artista pinta um quadro ou um escultor faz uma estátua, em nenhum momento visam o bem da sociedade, em princípio. Claro que gostarão imensamente de ter sua genialidade artística reconhecida mas é consenso que o trabalho artístico profundo é solitário. Antenas da sociedade, artistas captam, antes de todos, como os místicos, imagens e idéias que estão, digamos assim, pairando sobre todas as cabeças sem receber uma forma adequada, uma expressão compreensível. Por que é isto que o artista faz: ele expressa o que antes não tinha sido expresso daquele modo, e partilha com muitos uma percepção a qual, sem aquela expressão artística, na ausência de uma sensibilidade especial que é dada a poucos, não seria percebida ou sequer suposta.

Mais do que qualquer atividade humana, é na Arte que o Utilitarismo demonstra sua maior fragilidade.
Em Arte o princípio da incerteza, da imprevisibilidade e da incapacidade de prever as consequências atingem o clímax. O efeito de uma peça de arte, de qualquer natureza, é imprevisível na linha de tempo. Muitos textos só foram reconhecidos dezenas de anos após a morte dos autores, alguns até séculos depois de seu desaparecimento.

A Beleza não só é aparentemente inútil como também imprevisível, já que se trata de uma percepção estética altamente subjetiva, determinada pelas pessoas que a contemplam e que com ela se relacionam. Só que não é assim. Existe sim uma utilidade na beleza, que é gerar bem estar. Exatamente aquilo que o Utilitarismo busca. Só que é um bem estar não racional, não previsível quanto as suas consequências, sem amarras consequenciais, como uma rede, cujo abalo em qualquer de seus pontos gera vibrações em toda a sua extensão, em todas as direções.



Utilitarismo, como proposto, é uma linha reta encadeada. Arte é multidirecional. Um ponto focal e uma irradiação em todas as direções como uma explosão.

Na verdade a vida comum, cotidiana, encampa estas duas manifestações do real, linhas que se conectam a outras linhas, montando a estrutura de nossa rede imaginária de conexões, esta sim a expressão mais correta da sociedade humana.

E é aí que a pergunta se responde: para que serve a filosofia nos dias de hoje? Ela está em busca da Verdade, como no passado, ou tenta responder as três perguntas mais famosas da Mídia, “De onde viemos, quem somos e Aonde Vamos”?

Nem uma coisa nem outra.

O papel de busca da verdade foi transferido à Ciência, que é quem, hoje em dia, apoiada por uma outra linha de pensamento filosófica, o Positivismo, empreende a busca por uma Epistéme, ou Conhecimento de Certeza, ou para usar um termo Positivista, um conhecimento verificado e comprovado.

Já a busca pelas três consideradas mais importantes questões acima elencadas está também no âmbito de disciplinas científicas: De onde viemos, é o tema da Arqueologia, Antropologia e Cosmologia; quem somos, está a cargo da Psicologia, Biologia e Bioquímica; e finalmente para onde vamos faz parte das questões da Física Pura, da Astrofísica, e da Exobiologia, a área dedicada ao estudo de vida extraterrestre. Sim porque existe vida fora de nosso planeta, não os homenzinhos verdes das ficções mas bactérias, fungos e vírus que podem ter chegado até aqui de carona em algum meteoro.

O que sobrou para a Filosofia? Muita coisa.

Talvez a mais importante seja a capacidade de Criticar ( Analisar) qualquer coisa que o homem faça. E do ponto de vista da Ciência aplicada e da Indústria, visão que aliás é altamente utilitarista, a Filosofia pode ajudar e muito. Porque é a partir da Crítica Filosófica das possibilidades de uma determinado tipo de produto que é possível ao fabricante vislumbrar outras aplicações antes insuspeitas.

É a partir da aplicação da habilidade de instabilização de certezas naquilo que a ciência considera como verdades inabaláveis e comprovadas que os filósofos ajudam cientistas a repensar seu trabalho e redirecioná-lo em sentidos antes não imaginados.

E como isto se reflete na Vida Humana Cotidiana?

Vou dar um exemplo prático. Aplicando o Utilitarismo, as Indústrias criaram sistemas operacionais de produção em série que privilegiaram a reprodutibilidade de um determinado produto a tal ponto que pela enorme quantidade deste produto seu preço se tornasse mais barato e compensador. Esta foi a base do Fordismo, uma visão empresarial criada por Henry Ford , nos Estados Unidos e que por muitas décadas dominou a Indústria Americana e mundial, primeiro quanto a automóveis e depois para praticamente tudo que existe. Com o tempo no entanto verificou-se , após análises dos resultados deste procedimento em larga escala, que ele produzia um efeito colateral antes não percebido: a formação de uma quantidade de produtos excedentes, não absorvidos pelo mercado, e que se tornavam um entrave ao fluxo de bens de consumo. Além disto, para que a fábrica trabalhando em regime de linha de produção pudesse funcionar bem, necessitava de grandes estoques de componentes que participariam da elaboração do produto final. Se lembrarmos do exemplo do carro, as fábricas precisariam de vidro para os parabrisas, peças de borracha, parafusos e porcas. Tudo isto em quantidade suficiente para manter a produção, uma produção que, ao gerar excedente de produtos, levava ao acúmulo também de componentes e ocupava o espaço das fábricas. A Análise criteriosa destes problemas , ou seja, o repensar destes procedimentos geraram novas abordagens e o primeiro exemplo a alteração do chamado Fordismo americano para o Toyotismo japonês. E qual é a diferença? Primeiro: ao contrário do Fordismo, no Toyotismo a empresa não produz todas as peças necessárias ao seu produto final, mas transfere a terceiros as diversas partes desta corrente de elementos necessários a fabricação de seu produto. Um fornecedor fica responsável pelos parafusos e porcas, outro pelas peças de borracha, poutros pelo vidro e assim por diante, num processo de pulverização de funções que em primeiro lugar fez desaparecer os enormes estoques que toda a fábrica tinha que ter pata manter a linha de produção. A fábrica deixou de ser o lugar de fabricação do produto para ser o seu local de montagem. As peças são fabricadas de acordo com a demanda da produção, de forma que, como os estoques de cada fornecedor são infinitamente menores do que o de uma grande fábrica imprimiu-se racionalidade ao sistema produtivo.

Não se iludam, o que mudou não foi a tecnologia mas a Filosofia Industrial. A tecnologia, em seguida, adaptou-se a esta mudança filosófica de administrar. Outro exemplo é a Ecologia. A noção filosófica de Qualidade de Vida não surgiu de forma “dada”.

Na verdade, ele surge de uma série de elaborações filosóficas em textos os mais variados, entre eles um texto de Professor David Alan Crocker, Senior Research Scholar, Institute for Philosophy and Public Policy , em 1993, acerca de qualidade de vida e desenvolvimento . No texto em questão ele pergunta “quais as coisas que nos cercam que são de tamanha relevância que, se elas não existissem, não poderíamos considerar um indivíduo como pessoa”.

                                                              David Alan Crocker

Esta pergunta ecoa até hoje. O que nos faz pessoas? São os bens que possuímos nossas casas, nossas roupas, nossos títulos universitários? Ou é a nossa condição humana valorizada, tanto material como psicologicamente, onde podemos não ter tudo que queremos, mas sentimos que somos tratados com a decência que todos merecemos?

Todos dão a mesma resposta. E isto mudou a maneira de ver o mundo. Não começou aí mas com certeza continuou através deste e de muitos outros textos. Aos poucos foi se criando um consenso, através de multiplicadores, como jornais e revistas, televisões em todo o planeta, de que era possível viver melhor e que isto, viver melhor, não se resumia a aspectos eminentemente materiais, mas também a eles.

Junto houve o despertar da consciência ecológica. Em 1866, um cientista alemão chamado Ernst Heinrich Philipp August Haeckel utilizou pela primeira vez a palavra ecologia. Ele era médico e um artista versado em ilustração que se tornaria professor em anatomia comparada, mas só com o advento do Green Peace, organização criada em 1971 no Canadá por imigrantes americanos,Robert Hunter e Patrick Moore, a palavra ganharia o imaginário popular. Entre Haeckel e Hunter passaram-se 105 anos, e a idéia conceito de estudo do meio ambiente passou a ser uma causa política de defesa deste mesmo meio ambiente com a instauração da noção de risco ambiental.


Os co-fundadores do Green Peace, Bob Hunter, à esquerda, e Dr. Patrick Moore

O tema deste ensaio é a importância da filosofia da vida cotidiana e alguns podem argumentar que neste último trecho não se trata de um exemplo desta natureza. Não é bem assim. A história das idéias e da mudança dos conceitos ao longo da história é também a história da Filosofia. Se, no entanto, preferirem uma relação mais clara entre o pensamento e a ação, sugiro dois temas: por exemplo, a popularização do pensamento cartesiano, de Renée Descartes, e do pensamento de Emanuel Kant.
Renée Descartes (La Haye en Touraine, 31 de março de 1596 — Estocolmo, 11 de fevereiro de 1650) foi um filósofo, físico e matemático francês. É considerado o pai da filosofia moderna porque cria a noçãode que é através do pensamento e da razão que se pode perceber o mundo com clareza. Sua frase mais famosa, “Penso, logo existo”.

                                                              Renée Descartes

Configura a essência de um movimento que revolucionaria o mundo a partir do século 16: o racionalismo. É o racionalismo que fundamenta a mudança gradual de um mundo mergulhado em superstições em um mundo ansioso por idéias “claras e distintas”, oriundas do trabalha intelectual. Desde seus textos, toda a Europa se transformou, passo a passo, até que um movimento social em que o racionalismo foi usado como a base para uma das mais importantes mudanças políticas da história da humanidade derrubou a estrutura da nobreza mais luminosa da Europa, o Rei de França, naquela que se tornou a inspiração para movimentos em todo o mundo de republicanização das relações sociais: a revolução francesa. Ressalte-se, para se fazer justiça, a importância do pensamento de Jean Jacques Rousseau, outro importante filósofo francês nos acontecimentos de 5 de maio de 1789 até 9 de novembro de 1799. É de Rousseau a idéia de Liberdade, Igualdade e fraternidade, que se torna o lema dos insurgentes franceses, e depois do movimento maçônico francês. É verdade que “A reavaliação das bases jurídicas do Antigo Regime foi montada à luz do pensamento Iluminista, representado por Voltaire, Diderot, Montesquieu, John Locke, Immanuel Kant etc. Eles forneceram pensamentos para criticar as estruturas políticas e sociais absolutistas e sugeriram a idéia de uma maneira de conduzir liberal burguesa”. Só que não haveria pensamento racional e nem Ceticismo Inglês, como é o caso de Locke, sem o trabalho de Descartes. E embora Rousseau, ao contrário de Descartes, privilegie a emoção e não a razão, é na combinação de ambos que o movimento francês se fundamenta para revolucionar a sociedade. Sem a paixão rousseauniana e a crítica analítica cartesiana, a França não faria a Revolução. Ele é o organizador do pensamento humano com quatro pequenas regras:

  • Verificar se existem evidências reais e indubitáveis acerca do fenômeno ou coisa estudada;
  • Analisar, ou seja, dividir ao máximo as coisas, em suas unidades mais simples e estudar essas coisas mais simples;
  • Sintetizar, ou seja, agrupar novamente as unidades estudadas em um todo verdadeiro;
  • Enumerar todas as conclusões e princípios utilizados, a fim de manter a ordem do pensamento.

Também devemos considerar o trabalho de Immanuel Kant ou Emanuel Kant (Königsberg, 22 de abril de 1724 — Königsberg, 12 de fevereiro de 1804) foi um filósofo prussiano). “Em 1784, no seu ensaio "Uma resposta à questão: o que é o Iluminismo?", Kant visava vários grupos que tinham levado o racionalismo longe de mais: os metafísicos que pretendiam tudo compreender acerca de Deus e da imortalidade; os cientistas que presumiam nos seus resultados a mais profunda e exacta descrição da natureza; os cépticos que diziam que a crença em Deus, na liberdade, e na imortalidade, eram irracionais.

                                                                Immanuel Kant

Kant mantinha-se no entanto optimista, começando por ver na Revolução Francesa uma tentativa de instaurar o domínio da razão e da liberdade. Toda a Europa do Iluminismo contemplava então fascinada os acontecimentos revolucionários em França.” Mas sem dúvida é pela existência de um precedente filosófico com a obra de Renée Descarte que podemos falar em pensamento racional. Assim, um filósofo estabelece as bases para seu sucessor.
Kant leva essa racionalidade e o estudo da própria razão ao seu nível mais elevado, dissecando-lhe as entranhas em um belíssimo trabalho chamado Crítica da Razão Pura, em 1781.

                                                          Frontispício da “Crítica”

Ali ele demonstra que, filosoficamente, é improvável que conseguíssemos perceber as coisas como são se não houvesse um mecanismo intrínseco que se responsabilizasse pela organização destas percepções em conceitos utilizáveis pela inteligência e que este organizador é inato no homem, o que seria comprovado pela neurologia moderna com a frase “não são os olhos ou os ouvidos que enxergam ou ouvem, mas o cérebro”.  Ele criou uma noção e um conceito que além de fundamentar a neurologia moderna, criou também as bases para o que hoje conhecemos pelo nome de informática: a estrutura interna do computador.

                                                             John von Neumann

Pois a própria idéia de um Unidade Central de Processamento (o CPU, em inglês), lhe deve ser tributada. A idéia surgiu por intermédio de um cientista chamado John von Neumann, nascido Margittai Neumann János Lajos (Budapeste, 28 de dezembro de 1903 — Washington, D.C., 8 de fevereiro de 1957) um matemático húngaro de etnia judaica, naturalizado estadunidense. A maioria dos computadores tem uma arquitetura von Neumann. Mas a idéia de um processador central ( a mente) que processasse os programas dentro da própria máquina é kantiana. Até Kant, achava-se que as idéias ou eram captadas prontas. Ele demonstra que não se trata disso, descrevendo que tudo acontece separadamente: Sensação é o estímulo organizado, percepção é a sensação organizada, concepção é a percepção organizada, ciência é o conhecimento organizado, sabedoria é a vida organizada. O computador moderno tem captadores de informações como o cérebro humano tem seus olhos, ouvidos, nariz e dedos. No caso do computador falaremos de teclados, leitores de antigos disquetes, os discos de CD ROM, ou os modernos pen-drive, pelos quais é alimentado. Mas para que esta informação seja decodificada da linguagem binária e transformada em imagens precisamos do trabalho fundamental do CPU, aonde outros programas pré instalados “lerão” as informações e as transformarão em dados organizados para as nossa contemplação, sejam letras ou imagens. É ele que, graças aos programas pré instalados faz a tradução dos impulsos lidos pelos captadores da estrutura do computador pessoal. Da mesma forma que, para Kant, nas palavras de Will Durant “...a mente do homem,( e aqui está a grande tese de Kant) não é uma cera passiva sobre a qual a experiência e as sensações escrevem sua vontade absoluta e caprichosa; nem é um mero nome abstrato para a série ou grupo de estados mentais ; ela é um órgão ativo que molda e coordena as sensações em idéias, um órgão que transforma a multiplicidade caótica da experiência na unidade ordenada do pensamento” o computador também não recebe de forma passiva as informações com as quais o alimentamos mas as organizada maneira a que possam servir ao usuário. Entre a publicação da “Crítica”(1781) e Neumann publicar o "primeiro esboço de um relatório sobre o EDVAC" onde propunha a idéia do CPU (30 de junho de 1945), passaram-se 136 anos.
Esta conexão entre informática e Immanuel Kant, ainda pouco explorada, serve como encerramento a este breve comentário sobre a importância das idéias e dos filósofos sobre a vida do homem comum. O certo é que, embora não saibamos, nossos lábios apenas repetem suas idéias, de um ou de outro, sem lhes atribuir o crédito. O que falamos e as idéias que defendemos só são possíveis porque, dezenas ou centenas ou milhares de anos atrás alguns destes homens criaram conceitos que são a base de nosso modo de vida e da nossa compreensão do mundo. Ergamos uma taça de vinho em homenagem a eles. E jamais nos esqueçamos de sua importância.

Autor: Mário Sergio Sales
Acessado em: 23/02/2016 às 21h22min

domingo, 25 de outubro de 2015

Como fazer uma Câmera Pinhole de lata

Você sabia que dá para fazer uma câmera fotográfica caseira? :o
Isso mesmo, câmera fotográfica caseira! É a pinhole! – Se fala “pinrrou”.

O princípio de funcionamento da pinhole é como o do Cinema na caixa, em que precisamos apenas de uma caixa escura com um pequeno furo.
Para que a câmera pinhole capte a imagem adequadamente, é preciso que a caixa esteja bem fechada, sem nenhuma entrada de luz. A exceção fica por conta do feixe de luz que vai entrar pelo buraco feito especialmente para tirar a foto.
.
O mais legal, é que é muuuito divertido de fazer.
Para fazer sua pinhole, você vai precisar de:
Materiais
  • 1 lata de alumínio ou 1 caixa que não entre luz;
  • 1 folha de papel fotográfico;
  • 1 pedaço de papel cartão preto ou tinta preta;
  • 1 prego e 1 martelo – para fazer uma furo na lata;
  • 1 lata de refrigerante vazia;
  • 1 lixa;
  • revelador fotográfico;
  • interruptor fotográfico;
  • fixador fotográfico;
  • fita adesiva preta.
Como fazer a pinhole:
  1. cole o papel cartão dentro da lata para que não entre absolutamente luz nenhuma. Se estiver usando tinta, pinte todo seu interior. Não se esqueça de que a tampa também deve ficar preta!
  2. Faça um furo na parte lateral da lata usando o prego. Com a lixa, tire as rebarbas de alumínio que ficaram.
  3. Faça um pequeno quadrado com o alumínio da lata de refrigerante e cole do lado de fora da sua máquina fotográfica. Não se esqueça de fazer um furinho, bem pequenininho, no meio desse quadrado.
  4. Cole o quadrado de alumínio na lata. Não se esqueça de alinhar os furos! Em seguida, do lado de fora, tampe o furo com a fita adesiva.
  5. Coloque o papel fotográfico dentro da lata.
Sua câmera fotográfica pinhole está pronta! ;)
***Dicas***
Sobre o papel fotográfico para a pinhole:
  • O papel fotográfico preto e branco, o que usamos para tirar fotos na pinhole, é encontrado em lojas especializadas. Normalmente, encontramos o papel nos tamanhos 9cm x 14cm ou 10cm x 15cm.
  • O papel deve ser manuseado em um quarto escuro, que não tenha nenhuma entrada de luz. Caso contrário, o papel estragará. Para iluminar o quarto, use apenas uma lâmpada vermelha de 15W, já que a luz vermelha não estraga esse tipo de papel.
  • No quarto escuro, prenda o papel fotográfico na região interna da lata oposta ao furo. Como ensinamos no Cinema na caixa. Tampe muito bem a lata.

Fotografando com a pinhole
  • Fotografar com a máquina fotográfica pinhole é uma experiência e tanto. Não desanime se as primeiras fotos não forem do seu agrado. O tempo em que o furinho fica aberto para tirar a foto varia de 10 segundos, se o dia estiver bem claro, a 60 segundos em dias nublados.
  • Depois de várias fotos, você conseguirá calibrar sua pinhole. Além do tempo de exposição, o resultado da foto também vai depender do papel que você usar.
  • Depois de tirar a foto, você só poderá abrir sua pinhole em uma sala escura, iluminada apenas com luz vermelha. Mas o papel ainda não traz a foto. Ela precisa ser revelada. Se você abrir sua máquina fotográfica em um lugar claro, sua foto estragará.
:D
Confiram o resultado:
Foto tirada com câmera de lata


No vídeo, ensinamos a fazer a pinhole usando uma lata de alumínio, daquelas de achocolatado.

Obs. Não é necessário usar um pedestal para fotografar, você pode usar uma parede ou qualquer outro apoio.
Fonte: http://www.manualdomundo.com.br/2012/11/camera-fotografica-caseira-pinhole-de-lata/
Acessado em: 23/10/2015 às 15h e 35min.

domingo, 21 de junho de 2015

Um mundo de imagens para ler

Ao desvendar o universo visual de seu cotidiano, o aluno vai conhecer melhor a si mesmo, compreender sua cultura e ampliá-la com a de outros tempos e lugares


Experimente contar quantas imagens você vê diariamente. São construções em diversos estilos, carros de vários modelos, pessoas vestidas cada uma a seu gosto. Há ainda a poluição visual das cidades, com propagandas e pichações, a televisão, a internet, as fotos de jornais e revistas... Alunos e alunas usam adereços nos cabelos e enfeitam cadernos com ilustrações de todo tipo. Muitas vezes isso passa despercebido e parece não ter sentido. Ledo engano. Esses elementos visuais estão carregados de informações sobre nossa cultura e o mundo em que vivemos. Portanto, têm muito a ensinar.

A cultura visual - nome desse novo campo de estudo - propõe que as atividades ligadas à Arte passem a ir além de pinturas e esculturas, incorporando publicidade, objetos de uso cotidiano, moda, arquitetura, videoclipes e tantas representações visuais quantas o homem é capaz de produzir. Trata-se de levar o cotidiano para a sala de aula, explorando a experiência dos estudantes e sua realidade.

Essa "alfabetização visual" dará ao aluno condições de conhecer melhor a sociedade em que vive, interpretar a cultura de sua época e tomar contato com a de outros povos. Mais: ele vai descobrir as próprias concepções e emoções ao apreciar uma imagem. "O professor tem de despertar o olhar curioso, para o aluno desvendar, interrogar e produzir alternativas frente às representações do universo visual", afirma Fernando Hernández, professor da Faculdade de Belas Artes de Barcelona, na Espanha.
Teoria
O arte-educador e pesquisador norte-americano Elliot Eisner escreveu que o ensino se torna mais abrangente quando utiliza representações visuais, pois elas permitem a aprendizagem de tudo o que os textos escritos não conseguem revelar. Com base nisso, um grupo de pesquisadores norte-americanos passou, nos anos 1990, a estudar a ligação da Arte com a Antropologia. Ganhou o nome de cultura visual e hoje envolve também Arquitetura, Sociologia, Psicologia, Filosofia, Estética, Semiótica, Religião e História. Fernando Hernández é hoje um dos principais pesquisadores do assunto. Ele destaca que estamos imersos numa avalanche de imagens e que é preciso aprender a lê-las e interpretá-las para compreender e dar sentido ao mundo em que vivemos. Assim, crianças e adolescentes serão capazes de analisar os significados da imagem, os motivos que levaram à sua realização, como ela se insere na cultura da época, como é consumida pela sociedade e as técnicas utilizadas pelo autor. Na escola, isso significa que o ensino de Arte ganha uma perspectiva mais profunda. De conhecedor de artistas e estilos, o aluno passa a ser leitor, intérprete e crítico de todas imagens presentes em seu cotidiano.
Observar, produzir, avaliar

O ponto de partida para quem quer trabalhar a cultura visual é ficar atento no mundo à sua volta. Conhecer os objetos que fazem parte da realidade dos alunos e perceber quais são importantes para eles. E, claro, planejar as atividades conforme o projeto pedagógico da escola. Ao escolher os temas de estudo, dê preferência às imagens que façam sentido para os estudantes. O espanhol Fernando Hernández propõe alguns critérios. As representações devem ser inquietantes, estar relacionadas com valores comuns a outras culturas, refletir o anseio da comunidade, estar abertas a várias interpretações, ter sentido para a vida das pessoas, expressar valores estéticos, fazer com que o espectador pense, não apenas ser a expressão do narcisismo do artista, olhar para o futuro e não estar obcecadas pela ideia de novidade.



O visual da escola
Os estudos sobre cultura visual mostram que as imagens presentes em nosso cotidiano são fundamentais na formação de uma cultura crítica nas crianças e nos jovens. Como a escola é, desde cedo, um dos principais espaços frequentados por eles, ela ajuda (ou atrapalha) no processo de alfabetização visual. Por isso, antes de colar algo na parede de sala, pense: o que esse desenho, foto, mural ou cartaz vai representar para meus alunos? "O educador precisa evitar oferecer aos estudantes um espaço carregado de significados preestabelecidos", afirma Fernando Hernández.

O alerta vale principalmente para as classes de Educação Infantil. A pretexto de oferecer um ambiente "familiar", é comum ver as salas decoradas com personagens de histórias infantis e de desenhos animados. Os especialistas garantem que isso só ajuda a cristalizar estereótipos nos pequenos - e não auxilia em nada no trabalho de educar o olhar. "O ideal é que os espaços sejam preenchidos com representações criadas pelas próprias crianças", diz Irene Tourinho, vice-coordenadora do curso de pós-gradução em Cultura Visual da Universidade Federal de Goiás. Uma ideia: professores e alunos podem levar objetos importantes para eles (brinquedos, objetos de uso pessoal ou da decoração de casa etc.) e montar uma exposição para que todos observem e troquem informações sobre a importância de cada peça para seu dono, um trabalho ao mesmo tempo único e enriquecedor.


Roteiro para o olhar
O pesquisador norte-americano Robert William Ott, da Penn State University, criou o seguinte roteiro para treinar o olhar sobre obras de arte, mas ele pode ser adaptado a atividades ligadas à cultura visual. O diferencial é fazer sempre a relação com a realidade do aluno:

1) Descrever

Para aproveitar tudo o que uma imagem pode oferecer, os olhos precisam percorrer o objeto de estudo com atenção. Dê um tempo para a obra se "hospedar" no cérebro. Em sala de aula, peça que todos descrevam o que vêem e elaborem um inventário.

2) Analisar

É hora de perceber os detalhes. As perguntas feitas pelo professor devem ter por objetivo estimular o aluno a prestar atenção na linguagem visual, com seus elementos, texturas, dimensões, materiais, suportes e técnicas.

3) Interpretar

Um turbilhão de idéias vai invadir a classe e você precisa estar atento a todas elas, para
aproveitar as diversas possibilidades pedagógicas. Liste-as e eleja com a turma as que
correspondam aos objetivos de ensino. Meninos e meninas devem ter espaço para expressar as próprias interpretações, bem como sentimentos e emoções. Mostre outras manifestações visuais que tratem do mesmo tema e estimule-os a fazer comparações (cores, formas, linhas, organização espacial etc.).

4) Fundamentar

Levantadas as questões que balizarão o trabalho, é tarefa dos estudantes buscar respostas.
Elabore junto com eles uma lista com os aspectos que provocam curiosidade sobre a obra, o autor, o processo de criação, a época etc. Ofereça textos de diversas áreas do conhecimento para pesquisa e indique bibliografia e sites para consulta, selecionando os textos de acordo com os interesses e o nível de conhecimento da classe.

5) Revelar

Com tantas novidades e aprendizados, a turma certamente estará estimulada a produzir.
Discuta com todos como gostariam de expor as idéias que agora têm. Quais são essas idéias e como comunicá-las? É hora criar, desenhar, escrever, fazer esculturas, colagens.



Texto da Revista Nova Escola.
Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/arte/fundamentos/mundo-imagens-ler-426380.shtml 






domingo, 7 de junho de 2015

O que é arte? (9º ano)


ENTENDENDO A ARTE - O QUE É A ARTE?
Para que serve a Arte? O que significa? Que contribuições traz?
Para alguns, a arte concretiza-se na música que gostam de ouvir, tocar ou cantar; na dança que os faz felizes; na personagem com a qual se identificam, em uma peça de teatro; na pintura, na produção plástica que elaboram; na imagem na qual seus olhos passeiam e os leva a dialogar com o que estão vendo; na fruição, na apreciação das manifestações artísticas de que gostam. Para outros, talvez signifique algo que não consigam expressar e talvez até não signifique nada.
Poderíamos definir a palavra arte como “manifestação da atividade humana por meio da qual se expressa uma visão pessoal e desinteressada que interpreta o real ou o imaginário com recursos plásticos, linguísticos ou sonoros”. O mundo da Arte é concreto e vivo podendo ser observado, compreendido e apreciado.
Através da experiência artística o ser humano desenvolve sua imaginação e criação aprendendo a conviver com seus semelhantes, respeitando as diferenças e sabendo modificar a sua realidade.
A arte dá e encontra forma e significado como instrumento de vida na busca do entendimento de quem somos, onde estamos e o que fazemos no mundo.
O ser humano sempre procurou representar, por meio de imagens, a realidade em que vive( pessoas, animais, objetos e elementos da natureza), e os seres que imagina – divindades, por exemplo. As Artes Visuais, desenho, pintura, grafite, escultura, etc. – a literatura, a música, a dança e o teatro são formas de expressão que constituem a arte.
A arte é uma criação humana com valores estéticos (beleza, equilíbrio, harmonia, revolta) que sintetizam as suas emoções, sua história, seus sentimentos e a sua cultura. É um conjunto de procedimentos utilizados para realizar obras, e no qual aplicamos nossos conhecimentos. Apresenta-se sob variadas formas como: a plástica, a música, a escultura, o cinema, o teatro, a dança, a arquitetura etc.
Pode ser vista ou percebida pelo homem de três maneiras: visualizadas, ouvidas ou mistas (audiovisuais). Atualmente alguns tipos de arte permitem que o apreciador participe da obra.
Para podermos responder a muitas perguntas sobre o assunto devemos, antes de mais nada, saber que Arte é conhecimento.
As primeiras expressões artísticas
As mais antigas figuras feitas pelo ser humano foram desenhadas em paredes de rocha, sobretudo em cavernas. Esse tipo de arte é chamado de rupestre, do latim rupes, rocha. Já foram encontradas imagens rupestres em muitos locais, mas as mais estudadas são as das cavernas de Lascaux e Chauvet, França, de Altamira, Espanha, de Tassili, na região do Saara, África, e as do município de São Raimundo Nonato, no Piauí, Brasil.
Dentre as pinturas rupestres destacam-se as chamadas mãos em negativo e os desenhos e pinturas de animais. As mãos em negativo são um dos primeiros registros deixados pelos nossos ancestrais que viveram por volta de 30 mil anos atrás, no período da Pré-História chamado de Paleolítico.
Nos desenhos e pinturas de animais, chama nossa atenção o naturalismo: o artista pintava o animal do modo que ele o via, reproduzindo a natureza tal qual seus olhos a captavam.
Conhecendo mais sobre a Arte:
Dentre os possíveis e variados conceitos que a arte pode ter podemos sintetizá-los do seguinte modo – a arte é uma experiência humana de conhecimento estético que transmite e expressa ideias e emoções na forma de um objeto artístico (desenho, pintura, escultura, arquitetura, etc.)e que possui em si o seu próprio valor.Portanto, para apreciarmos a arte é necessário aprender sobre ela. Aprender a observar, a analisar, a refletir, a criticar e a emitir opiniões fundamentadas sobre gostos, estilos, materiais e modos diferentes de fazer arte.
Quem faz a Arte?
O homem criou objetos para satisfazer as necessidades práticas, como as ferramentas para cavar a terra e os utensílios de cozinha. Outros objetos são criados por serem interessantes ou possuírem um caráter instrutivo. O homem cria a arte como meio de vida, para que o mundo saiba o que pensa, para divulgar as suas crenças (ou as de outros), para estimular e distrair a si mesmo e aos outros, para explorar novas formas de olhar e interpretar objetos e cenas.
Porque o mundo necessita de Arte?
Porque fazemos arte e para que a usamos é aquilo que chamamos de função da arte que pode ser feita para decorar o mundo, para espelhar o nosso mundo (naturalista), para ajudar no dia-a-dia (utilitária), para explicar e descrever a história, para ser usada na cura de doenças e para ajudar a explorar o mundo.
Como entendemos a Arte?
O que vemos quando admiramos uma arte depende de nossa experiência e conhecimentos, da nossa disposição no momento, imaginação e daquilo que o artista pretendeu mostrar.
Como conseguimos ver as transformações do mundo através da arte?
Podemos verificar que tipo de arte foi feita, quando, onde e como, desta maneira estaremos dialogando com a obra de arte, e assim podemos entender as mudanças que o mundo teve.
Para existir a arte são precisos três elementos: o artista, o observador e a obra de arte.
O primeiro elemento é o artista, aquele que cria a obra, partindo do seu conhecimento concreto, abstrato e individual transmitindo e expressando suas ideias, sentimentos, emoções em um objeto artístico (pintura, escultura, desenho etc) que simbolize esses conceitos. Para criar a obra o artista necessita conhecer e experimentar os materiais com que trabalha, quais as técnicas que melhor se encaixam à sua proposta de arte e como expor seu conhecimento de maneira formal no objeto artístico.
O outro elemento é o observador, que faz parte do público que tem o contato com a obra, partindo num caminho inverso ao do artista – observa a obra para chegar ao conhecimento de mundo que ela contém. Para isso o observador precisa de sensibilidade, disponibilidade para entendê-la e algum conhecimento de história e história da arte, assim poderá entender o contexto em que a obra foi produzida e fazer relação com o seu próprio contexto.
Por fim, a obra de arte ou o objeto artístico, faz parte de todo o processo, indo da criação do artista até o entendimento e apreciação do observador. A obra de arte guarda um fim em si mesma sem precisar de um complemento ou “tradução”, desde que isso não faça parte da proposta do artista.

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Entre o bem e o mal

Moral e Ética: Dois Conceitos de Uma Mesma Realidade


A confusão que acontece entre as palavras Moral e Ética existem há muitos séculos. A própria etimologia destes termos gera confusão, sendo que Ética vem do grego“ethos” que significa modo de ser, e Moral tem sua origem no latim, que vem de “mores”, significando costumes.
Esta confusão pode ser resolvida com o esclarecimento dos dois temas, sendo que Moral é um conjunto de normas que regulam o comportamento do homem em sociedade, e estas normas são adquiridas pela educação, pela tradição e pelo cotidiano. Durkheim explicava Moral como a “ciência dos costumes”, sendo algo anterior a própria sociedade. A Moral tem caráter obrigatório.
Já a palavra Ética, Motta (1984) defini como um “conjunto de valores que orientam o comportamento do homem em relação aos outros homens na sociedade em que vive, garantindo, outrossim, o bem-estar social”, ou seja, Ética é a forma que o homem deve se comportar no seu meio social.
A Moral sempre existiu, pois todo ser humano possui a consciência Moral que o leva a distinguir o bem do mal no contexto em que vive. Surgindo realmente quando o homem passou a fazer parte de agrupamentos, isto é, surgiu nas sociedades primitivas, nas primeiras tribos. A Ética teria surgido com Sócrates, pois se exigi maior grau de cultura. Ela investiga e explica as normas morais, pois leva o homem a agir não só por tradição, educação ou hábito, mas principalmente por convicção e inteligência. Vásquez (1998) aponta que a Ética é teórica e reflexiva, enquanto a Moral é eminentemente prática. Uma completa a outra, havendo um inter-relacionamento entre ambas, pois na ação humana, o conhecer e o agir são indissociáveis.
Em nome da amizade, deve-se guardar silêncio diante do ato de um traidor? Em situações como esta, osQuadrinho sobre moral e éticaindivíduos se deparam com a necessidade de organizar o seu comportamento por normas que se julgam mais apropriadas ou mais dignas de ser cumpridas. Tais normas são aceitas como obrigatórias, e desta forma, as pessoas compreendem que têm o dever de agir desta ou daquela maneira. Porém o comportamento é o resultado de normas já estabelecidas, não sendo, então, uma decisão natural, pois todo comportamento sofrerá um julgamento. E a diferença prática entre Moral e Ética é que esta é o juiz das morais, assim Ética é uma espécie de legislação do comportamento Moral das pessoas. Mas a função fundamental é a mesma de toda teoria: explorar, esclarecer ou investigar uma determinada realidade.
A Moral, afinal, não é somente um ato individual, pois as pessoas são, por natureza, seres sociais, assim percebe-se que a Moral também é um empreendimento social. E esses atos morais, quando realizados por livre participação da pessoa, são aceitas, voluntariamente.
Pois assim determina Vasquez (1998) ao citar Moral como um “sistema de normas, princípios e valores, segundo o qual são regulamentadas as relações mútuas entre os indivíduos ou entre estes e a comunidade, de tal maneira que estas normas, dotadas de um caráter histórico e social, sejam acatadas livres e conscientemente, por uma convicção íntima, e não de uma maneira mecânica, externa ou impessoal”.
Enfim, Ética e Moral são os maiores valores do homem livre. Ambos significam “respeitar e venerar a vida”. O homem, com seu livre arbítrio, vai formando seu meio ambiente ou o destruindo, ou ele apóia a natureza e suas criaturas ou ele subjuga tudo que pode dominar, e assim ele mesmo se torna no bem ou no mal deste planeta. Deste modo, Ética e a Moral se formam numa mesma realidade.


Teorias éticas



As teorias éticas nascem e desenvolvem-se em diferentes sociedades como resposta aos problemas resultantes das relações entre os homens. Os contextos históricos são pois elementos muito importantes para se perceber as condições que estiveram na origem de certas problemáticas morais que ainda hoje permanecem actuais

1.Antiga Grécia
As teorias éticas gregas, entre o século V e o século IV a.C. são marcadas por dois aspectos fundamentais:
Polis. A organização política em que os cidadãos vivem - as cidades-estado -, favorecem a sua participação activa na vida política da sociedade. As teorias éticas apontam para um dado ideal de cidadão e de Sociedade.
Cosmos. Algumas destas teorias ético-políticas procuram igualmente fundamentarem-se em concepções cósmicas. 
Teorias Éticas Fundamentais
Sofistas. Defendem o relativismo de todos os valores. Alguns sofistas, como Cálicles ou Trasimaco afirmam que o valor supremo de qualquer cidadão era atingir o prazer supremo. O máximo prazer pressupunha o domínio do poder político. Ora este só estava ao alcance dos mais fortes, corajosos e hábeis no uso da palavra. A maioria eram fracos ou inábeis, pelo que estavam condenados a serem dominados pelos mais fortes. 
Sócrates (470-399 a.C). Defende o carácter eterno de certos valores como o Bem, Virtude, Justiça, Saber. O valor supremo da vida é atingir a perfeição e tudo deve ser feito em função deste ideal, o qual só pode ser obtido através do saber. Na vida privada ou na vida pública, todos tinham a obrigação de se aperfeiçoarem fazendo o Bem, sendo justos. O homem sábio só pode fazer o bem, sendo as injustiças próprias dos ignorantes (Intelectualismo Moral).
Platão (427-347 a.C.). Defende o valor supremo do Bem. O ideal que todos os homens livres deveriam tentar atingir. Para isto acontecesse deveriam ser reunidas, pelo menos duas condições: 1. Os homens deviam seguir apenas a razão desprezando os instintos ou as paixões; 2. A sociedade devia de ser reorganizada, sendo o poder confiado aos sábios, de modo a evitar que as almas fossem corrompidas pela maioria, composta por homens ignorantes e dominados pelos instintos ou paixões.
Aristóteles (384-322 a.C.). Defende o valor supremo da felicidade.A finalidade de todo o homem é ser feliz. Para que isto aconteça é necessário que cada um siga a sua própria natureza, evite os excessos, seguindo sempre a via do "meio termo" (Justa Medida). Ninguém consegue todavia ser feliz sózinho. Aristóteles, à semelhança de Platão coloca a questão da necessidade de reorganizar a sociedade de modo a proporcionar que cada um do seus membros possa ser feliz na sua respectiva condição. Ética e política acabam sempre por estar unidas.

2. Mundo Helenístico e Romano
Com o domínio da Grécia por Alexandre Magno, e os Impérios que lhe seguiram, altera-se os contextos em que o homem vive. 
 As cidades-Estados são substituídas por vastos Impérios constituídos por uma multiplicidade de povos e de culturas. Os cidadãos sentem que vivem numa sociedade na qual as questões políticas  são sentidas como algo muito distantes das suas preocupações. As teorias éticas são nitidamente individualistas, limitando-se em geral a apresentar um conjunto de recomendações (máximas ) sobre a forma mais agradável de viver a vida. 
 A relação do homem com a cidade é substituída pela sua relação privilegiada com o cosmos. Viver em harmonia com ele é a suprema das sabedorias.
Teorias Éticas Fundamentais
 Epicuristas (Epicuro, Lucrécio ). O objectivo da vida do sábio  é atingir máximo de prazer, mas para que isso seja possível ele deve apartar-se do mundo. Atingir a imperturbabilidade do espírito e a tranquilidade do corpo.
Cínicos (Antistenes, Diógenes ). O objectivo da vida do sábio é viver de acordo com a natureza. Afastando-se de tudo aquilo provoca ilusões e sofrimentos: convenções sociais, preconceitos, usos e costumes sociais, etc. Cada um deve viver deforma simples e despojada.  
Estóicos (Zenão de Cítio, Séneca e Marco Aurélio). O homem é um simples elemento do Cosmos, cujas leis determinam o nosso destino. O sábio vive em harmonia com a natureza, cultiva o autodomínio, evitando as paixões e os desejos, em suma, tudo aquilo que pode provocar sofrimento. 
Cépticos (Pirro, Sexto Empírio).Defendem que nada sabemos, pelo nada podemos afirmar com certeza. Face a este posição de príncípio a felicidade só pode ser obtida través do alheamento do que se passa á nossa volta, cultivando o equilíbrio interior.



3.Idade Média
O longo período que se estende entre o século IV e o século XV, é marcado pelo predomínio absoluto da moral cristã. Deus é identificado com o Bem, Justiça e Verdade. É o modelo que todos os homens deviam procurar seguir. Neste contexto dificilmente se concebe a existência de teorias éticas autónomas da doutrina da Igreja Cristã, dado que todas elas de uma forma ou outra teriam que estar de concordo com os seus princípios.   
Teorias Éticas Fundamentais 
 Santo Agostinho (354-430). Fundamentou a moral cristão, com elementos filosóficos da filosofia clássica. O objectivo da moral é ajudar os seres humanos a serem felizes, mas a felicidade suprema consiste num encontro amoroso do homem com Deus. Só através pela graça de Deus podemos ser verdadeiramente felizes. 
 St. Tomás Aquino (1225-1274). No essencial concorda com Santo Agostinho, mas procura fundamentar a ética tendo em conta as questões colocadas na antiguidade clássica por Aristóteles.

4.Idade Moderna
Entre os séculos XVI e XVIII, a sociedade Europeia é varrida por profundas mudanças que alteram completamente as concepções anteriores.
Renascimento. Em Itália a partir do século XIV desenvolve-se um movimento filosófico e artístico que retoma explicitamente ideias da Antiguidade Clássica. O homem ocupa nestas ideias o lugar central (antropocentrismo). Este movimento acaba por ser difundir por toda a Europa a partir do século XVI.
Descobertas Geográficas. A aventura iniciada em 1415 pelos portugueses, teve um profundo impacto na sociedade europeia. Em consequência destas descobertas as concepções sobre a Terra e o Universo tiveram que ser alteradas. Copérnico foi o primeiro a retirar todas as ilações do que estava a acontecer. O universo deixa de ser concebido com um mundo fechado para ser encarado como espaço infinito. A terra, o Sol, mas também o Homem perderam neste processo a sua importância e significado. As descobertas revelaram igualmente a existência de outros povos, culturas, religiões até aí desconhecidas. A realidade tornou-se muitíssimo mais complexa e plural.
Divisões na Igreja. O século XVI é marcado por diversos movimentos de ruptura no cristianismo, que provocam o aparecimento de novas igrejas, cada uma reclamando para si a interpretação mais correcta da palavra divina. Não admira que este período seja marcado numerosos e sangrentos conflitos religiosos. O resultado global foi o aumento da descrença, o desenvolvimento do ateísmo.
Ciência Moderna. O grande critério do conhecimento deixas de ser a tradição, a autoridade e passa a ser a experiência.Facto que coloca radicalmente em causa crenças milenares. 
É em resultado destes e muitos outros factores, que assistimos ao longo de toda a Idade Moderna ao desenvolvimento do Individualismo e a afirmação da razão humana. O grande sinal desta mudança foi a multiplicação das teorias éticas, muitas das quais em contradição com os fundamentos do próprio cristianismo. 
Teorias Éticas Fundamentais
Descartes (1596-1650). Este filósofo simboliza toda a fé que a Idade Moderna depositiva na razão humana. Só ela nos permitiria construir um conhecimento absoluto. Em termos morais mostrou-se todavia muito cauteloso. Neste caso reconheceu que seria impossível estabelecer princípios seguros para a acção humana. Limitou-se a recomendar uma moral provisória de tendência estóica: O seu único princípio ético consistia em seguir as normas e os costumes morais que visse a maioria seguir, evitando deste modo rupturas ou conflitos.
John Locke (1632-1704). Este filósofo parte do princípio que todos os homens nascem com os mesmos direitos (Direito á Liberdade, à Propriedade, à Vida). A sociedade foi constituída, através de um contrato social, que visava garantir e reforçar estes mesmos direitos.  Neste sentido, as relações entre os homens devem ser pautadas pelo seu escrupuloso respeito.
David Hume (1711-1778). Defende que as nossas acções são em geral motivadas pelas paixões. Os dois princípios éticos fundamentais são a utilidade e a simpatia.   
IlustraçãoJean-Jacques Rousseau (1712-1778), concebe o homem como um ser bom por natureza (mito do "bom selvagem) e atribui a causa de todos os males à sociedade e à moral que o corromperam. O Homem sábio é aquele que segue a natureza e despreza as convenções sociais. A natureza é entendida como algo harmonioso e racional. 

Fonte: http://afilosofia.no.sapo.pt/etica1.htm acessado em 07/06/2015 às 07hs