quinta-feira, 21 de junho de 2012

Rio + 20


Sob o signo da crise


Em entrevista à RHBN, o diplomata Rubens Ricupero fala sobre as diferenças e semelhanças entre a Rio 92 e a Rio+20



     No momento em que o Brasil recebe uma grande conferência sobre o meio ambiente, o diplomata Rubens Ricupero, ex-ministro do Meio Ambiente e da Amazônia Legal (1993-1994), faz um balanço sobre o tema desde a Rio 92.
REVISTA DE HISTÓRIA O pensamento sobre o meio ambiente mudou nos últimos 20 anos?
RUBENS RICUPERO Mudou muito, tanto o contexto externo quanto o problema ambiental em si. No que diz respeito ao contexto externo, 1992 era o período imediato após a queda da União Soviética. O mundo precisava caminhar para uma convergência em termos de democracia. Foi um período econômico de muita esperança, e hoje o contexto internacional é desfavorável – há guerras no Oriente Médio, crise financeira afetando grandes países. Quanto ao problema ambiental, naquele momento de esperança a Rio 92 tomou como ponto de partida a possibilidade de grandes mudanças – assinaram a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima e a Convenção da Biodiversidade.
RH E houve mudanças nesse sentido?
RCNão. Em 1997, assinou-se o Protocolo de Kyoto – ele teve uma recepção muito parcial e mesmo este resultado está hoje sendo ameaçado. No que diz respeito à biodiversidade, também não houve avanço; há dificuldade nas negociações. A Rio+20 se abre de uma maneira mais sóbria: sob o signo da crise. Antes, em 92, abria-se sob o signo da esperança. A Rio+20 acontece com a constatação de que, 20 anos após a outra reunião, o progresso foi pequeno, tanto em matéria de ritmo de emissões de gás quanto em matéria de extinção de espécies.
RH Aonde se pretende chegar com as discussões da Rio+20?
RC Tenta-se chegar ao mesmo objetivo pelo mesmo caminho: o da economia verde. Querem aumentar a energia limpa renovável, pobre em carbono. Esta é uma forma indireta de se chegar ao mesmo resultado, tentando encontrar o próprio incentivo, sem impor limites, como foi feito da outra vez. Resta ver se vai prosperar.
RH A ausência da maioria dos chefes de Estado no encontro pode prejudicar o avanço prático das discussões sobre o desenvolvimento sustentável?
RC A ausência deles influi muito, mas não se pode generalizar. Espera-se que venham 50.000 pessoas ao Rio de Janeiro, mas, mesmo que chegue a isso, serão militantes do movimento. Embora seja impressionante, não quer dizer que movam as marchas. Tanto é assim que até hoje o tema ambiental, mesmo nos países onde há partidos verdes, não é um tema decidido em política. No Brasil, menos ainda. Uma pequena parcela da sociedade está consciente e fica completamente anulada no Congresso. A impressão que se tem é que vai ser necessário um fato novo no futuro para motivar a vontade política. Talvez a seriedade do problema possa motivar. No momento, a coisa parece estar num ponto morto. Difícil ver como essa conferência vai modificar a opinião pública.

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