domingo, 7 de junho de 2015

Teorias éticas



As teorias éticas nascem e desenvolvem-se em diferentes sociedades como resposta aos problemas resultantes das relações entre os homens. Os contextos históricos são pois elementos muito importantes para se perceber as condições que estiveram na origem de certas problemáticas morais que ainda hoje permanecem actuais

1.Antiga Grécia
As teorias éticas gregas, entre o século V e o século IV a.C. são marcadas por dois aspectos fundamentais:
Polis. A organização política em que os cidadãos vivem - as cidades-estado -, favorecem a sua participação activa na vida política da sociedade. As teorias éticas apontam para um dado ideal de cidadão e de Sociedade.
Cosmos. Algumas destas teorias ético-políticas procuram igualmente fundamentarem-se em concepções cósmicas. 
Teorias Éticas Fundamentais
Sofistas. Defendem o relativismo de todos os valores. Alguns sofistas, como Cálicles ou Trasimaco afirmam que o valor supremo de qualquer cidadão era atingir o prazer supremo. O máximo prazer pressupunha o domínio do poder político. Ora este só estava ao alcance dos mais fortes, corajosos e hábeis no uso da palavra. A maioria eram fracos ou inábeis, pelo que estavam condenados a serem dominados pelos mais fortes. 
Sócrates (470-399 a.C). Defende o carácter eterno de certos valores como o Bem, Virtude, Justiça, Saber. O valor supremo da vida é atingir a perfeição e tudo deve ser feito em função deste ideal, o qual só pode ser obtido através do saber. Na vida privada ou na vida pública, todos tinham a obrigação de se aperfeiçoarem fazendo o Bem, sendo justos. O homem sábio só pode fazer o bem, sendo as injustiças próprias dos ignorantes (Intelectualismo Moral).
Platão (427-347 a.C.). Defende o valor supremo do Bem. O ideal que todos os homens livres deveriam tentar atingir. Para isto acontecesse deveriam ser reunidas, pelo menos duas condições: 1. Os homens deviam seguir apenas a razão desprezando os instintos ou as paixões; 2. A sociedade devia de ser reorganizada, sendo o poder confiado aos sábios, de modo a evitar que as almas fossem corrompidas pela maioria, composta por homens ignorantes e dominados pelos instintos ou paixões.
Aristóteles (384-322 a.C.). Defende o valor supremo da felicidade.A finalidade de todo o homem é ser feliz. Para que isto aconteça é necessário que cada um siga a sua própria natureza, evite os excessos, seguindo sempre a via do "meio termo" (Justa Medida). Ninguém consegue todavia ser feliz sózinho. Aristóteles, à semelhança de Platão coloca a questão da necessidade de reorganizar a sociedade de modo a proporcionar que cada um do seus membros possa ser feliz na sua respectiva condição. Ética e política acabam sempre por estar unidas.

2. Mundo Helenístico e Romano
Com o domínio da Grécia por Alexandre Magno, e os Impérios que lhe seguiram, altera-se os contextos em que o homem vive. 
 As cidades-Estados são substituídas por vastos Impérios constituídos por uma multiplicidade de povos e de culturas. Os cidadãos sentem que vivem numa sociedade na qual as questões políticas  são sentidas como algo muito distantes das suas preocupações. As teorias éticas são nitidamente individualistas, limitando-se em geral a apresentar um conjunto de recomendações (máximas ) sobre a forma mais agradável de viver a vida. 
 A relação do homem com a cidade é substituída pela sua relação privilegiada com o cosmos. Viver em harmonia com ele é a suprema das sabedorias.
Teorias Éticas Fundamentais
 Epicuristas (Epicuro, Lucrécio ). O objectivo da vida do sábio  é atingir máximo de prazer, mas para que isso seja possível ele deve apartar-se do mundo. Atingir a imperturbabilidade do espírito e a tranquilidade do corpo.
Cínicos (Antistenes, Diógenes ). O objectivo da vida do sábio é viver de acordo com a natureza. Afastando-se de tudo aquilo provoca ilusões e sofrimentos: convenções sociais, preconceitos, usos e costumes sociais, etc. Cada um deve viver deforma simples e despojada.  
Estóicos (Zenão de Cítio, Séneca e Marco Aurélio). O homem é um simples elemento do Cosmos, cujas leis determinam o nosso destino. O sábio vive em harmonia com a natureza, cultiva o autodomínio, evitando as paixões e os desejos, em suma, tudo aquilo que pode provocar sofrimento. 
Cépticos (Pirro, Sexto Empírio).Defendem que nada sabemos, pelo nada podemos afirmar com certeza. Face a este posição de príncípio a felicidade só pode ser obtida través do alheamento do que se passa á nossa volta, cultivando o equilíbrio interior.



3.Idade Média
O longo período que se estende entre o século IV e o século XV, é marcado pelo predomínio absoluto da moral cristã. Deus é identificado com o Bem, Justiça e Verdade. É o modelo que todos os homens deviam procurar seguir. Neste contexto dificilmente se concebe a existência de teorias éticas autónomas da doutrina da Igreja Cristã, dado que todas elas de uma forma ou outra teriam que estar de concordo com os seus princípios.   
Teorias Éticas Fundamentais 
 Santo Agostinho (354-430). Fundamentou a moral cristão, com elementos filosóficos da filosofia clássica. O objectivo da moral é ajudar os seres humanos a serem felizes, mas a felicidade suprema consiste num encontro amoroso do homem com Deus. Só através pela graça de Deus podemos ser verdadeiramente felizes. 
 St. Tomás Aquino (1225-1274). No essencial concorda com Santo Agostinho, mas procura fundamentar a ética tendo em conta as questões colocadas na antiguidade clássica por Aristóteles.

4.Idade Moderna
Entre os séculos XVI e XVIII, a sociedade Europeia é varrida por profundas mudanças que alteram completamente as concepções anteriores.
Renascimento. Em Itália a partir do século XIV desenvolve-se um movimento filosófico e artístico que retoma explicitamente ideias da Antiguidade Clássica. O homem ocupa nestas ideias o lugar central (antropocentrismo). Este movimento acaba por ser difundir por toda a Europa a partir do século XVI.
Descobertas Geográficas. A aventura iniciada em 1415 pelos portugueses, teve um profundo impacto na sociedade europeia. Em consequência destas descobertas as concepções sobre a Terra e o Universo tiveram que ser alteradas. Copérnico foi o primeiro a retirar todas as ilações do que estava a acontecer. O universo deixa de ser concebido com um mundo fechado para ser encarado como espaço infinito. A terra, o Sol, mas também o Homem perderam neste processo a sua importância e significado. As descobertas revelaram igualmente a existência de outros povos, culturas, religiões até aí desconhecidas. A realidade tornou-se muitíssimo mais complexa e plural.
Divisões na Igreja. O século XVI é marcado por diversos movimentos de ruptura no cristianismo, que provocam o aparecimento de novas igrejas, cada uma reclamando para si a interpretação mais correcta da palavra divina. Não admira que este período seja marcado numerosos e sangrentos conflitos religiosos. O resultado global foi o aumento da descrença, o desenvolvimento do ateísmo.
Ciência Moderna. O grande critério do conhecimento deixas de ser a tradição, a autoridade e passa a ser a experiência.Facto que coloca radicalmente em causa crenças milenares. 
É em resultado destes e muitos outros factores, que assistimos ao longo de toda a Idade Moderna ao desenvolvimento do Individualismo e a afirmação da razão humana. O grande sinal desta mudança foi a multiplicação das teorias éticas, muitas das quais em contradição com os fundamentos do próprio cristianismo. 
Teorias Éticas Fundamentais
Descartes (1596-1650). Este filósofo simboliza toda a fé que a Idade Moderna depositiva na razão humana. Só ela nos permitiria construir um conhecimento absoluto. Em termos morais mostrou-se todavia muito cauteloso. Neste caso reconheceu que seria impossível estabelecer princípios seguros para a acção humana. Limitou-se a recomendar uma moral provisória de tendência estóica: O seu único princípio ético consistia em seguir as normas e os costumes morais que visse a maioria seguir, evitando deste modo rupturas ou conflitos.
John Locke (1632-1704). Este filósofo parte do princípio que todos os homens nascem com os mesmos direitos (Direito á Liberdade, à Propriedade, à Vida). A sociedade foi constituída, através de um contrato social, que visava garantir e reforçar estes mesmos direitos.  Neste sentido, as relações entre os homens devem ser pautadas pelo seu escrupuloso respeito.
David Hume (1711-1778). Defende que as nossas acções são em geral motivadas pelas paixões. Os dois princípios éticos fundamentais são a utilidade e a simpatia.   
IlustraçãoJean-Jacques Rousseau (1712-1778), concebe o homem como um ser bom por natureza (mito do "bom selvagem) e atribui a causa de todos os males à sociedade e à moral que o corromperam. O Homem sábio é aquele que segue a natureza e despreza as convenções sociais. A natureza é entendida como algo harmonioso e racional. 

Fonte: http://afilosofia.no.sapo.pt/etica1.htm acessado em 07/06/2015 às 07hs

Um comentário:

Elizama disse...

Muito bom obrigada <3